Ventos


Sorriso Brilhante tinha os olhos sempre voltados para o céu, lá morava um amigo e guia o caboclo da Pena Dourada. Sempre conversava com ele nas luas cheias, era onde as estrelas brilhavam mais e ele podia se aproximar com mais facilidade. Contava as noites ansiosa a cada ciclo que se passava para que chegasse a noite da lua que iluminava mais o céu.
Na última conversa que tiveram, Pena Dourada lhe disse que deveria ser mais gentil com a natureza e respeitar seus ensinamentos, Sorriso lhe dissera que já fazia isso desde sempre, no entanto o caboclo retrucou lhe dizendo que não fazia da forma correta. Ás vezes acontece dessas, os índios da aldeia sabem o que é certo, acham que fazem, mas não fazem nada, disse. O caboclo pediu que Sorriso fizesse uma escuta atenta, prestando atenção aos sinceros sussurros das matas e ouvindo com o coração.
A jovem índia por incontáveis noites não conseguia perceber nada de diferente, no começo achava aquela conversa com o caboclo muito bobinha, ora já escutava a natureza, já morava nela desde sempre e não acreditava que ela pudesse ensinar coisa nenhuma que já não tivesse visto. Seus pensamentos não paravam de atormentá-la e foi difícil convencer a si mesma a dar uma chance para as palavras do caboclo. Foi só quando ouviu Passo Manso dizendo que não aguentava mais ouvir o sabia cantando que percebeu que existia um sabia dourado em cima de uma árvore que não parava de cantar que notou a existência do animal. Era isso! Ela já estava tão acostumada com a natureza que já não se importava com ela.
Passou a escutar a natureza de uma forma diferente.
Na noite da lua que iluminava mais o céu, Sorriso foi se encontrar perto da cachoeira com o caboclo. Ela queria lhe falar o que ouvira de diferente, todos os pássaros, os riachos e as sensações novas que descobrirá, no entanto Pena Dourada foi muito breve:
- Fia, tu precisas deixar fluir seus pensamentos é sua maior sombra.
Sorriso brilhante sorriu desconcertante e pensou consigo: a lição jamais termina.

Comentários