Eu sou o vento,
E nas noites quentes de verão
Gosto de me enamorar junto do mar
E quando não estou lá
Fico brincando com a vida à passear
Brinco com os guardanapos
Faço objetos sumir e pipa planar
Também faço flores surgir
E visito um senhor que faz música comigo a brincar
Ajudo crianças que brincam de correr
Valso com os apaixonados
Faço um sonhador voar
E um lindo pomar germinar, brotar, raiar
E enquanto houver liberdade,
poderei existir
junto de ti
Aqui
Ali
Um dia desses, em que fico me sentindo
FORTE
fiz uma amiga
Seu nome era Camila
E seus pés planavam a 2cm do ar
Pinto sua história com cores divertidas:
Camila era jovem, impaciente e imprevisível
Tinha pressa de futuro, era ansiosa
E sempre parecia escorregar coisas pelas suas mãos
(Era eu a serelepar)
Também tinha jeito de durona e de teimosa
Sempre a reinar
Sua vida era agitada,
Vivia procurando caçar saci
Gostava de pedalar, me sentir em seus cabelos a enroscar
E assobiar pelos cantos da casa em São Bento do Sapucaí
Era ansiosa, saltitava, e tinha boas ideias,
Uma mais mirabolante que a outra:
Fazer um Herbário, construir um altar no pé do morro,
Ter minhocas de estimação, fazer uma poção com lodo
Apostar no baralho com o avô e rodopiar depois de vencer
Andar de ponta cabeça e deixar todo cabelo crescer
Queria ser heroína, mas não dava
Isso nem existia, pensava
Queria ser poeta, mas a poesia morreu
com os livros de auto-ajuda que a vovó Filó lhe deu
Não sabia o que fazer
Então resolvi ajudar
Girei e girei, até tudo voar
destrui uma porção de coisas na cidade
Voo tudo do seu quintal
Camila ficou estupefata,
Que pé de vento é esse temperamental?, disse.
E aí começou a reconstruir pequenas coisas:
gnomos de jardim, relógios de parede,
mesas de madeira, uma sanfona, uma cadeira.
Toda a cidade soube e trazia algo para Camila ajeitar
Era boa nisso. E criou gosto. Poderia até melhorar.
E ela ficou contente
Sorriu um sorriso amarelo entre dentes,
E o lamento virou alento para
os avoados e desesperados:
Os ansiosos que buscam por talento.
Porque a vida é meio assim,
Vento bom, vento ruim.
E eu sempre vento, venho, acalento
Mudando o que você acreditava,
transformando o amargo:
Em algo doce e inesperado,
transformando tâmaras em alimento.
Se precisar de um pé de vento para a vida re-concertar,
Procure-me em noites quentes,
Nas encostas do mar.
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