Dedicado a mãe Márcia Moreira, sacerdotisa de umbanda, que nos contou uma vez que queria ser urubu.
De tanto trabalhar,
Damião tinha a cor de terra molhada,
molhada de tanto suor que escorria
pela sua testa franzida,
e apesar de jovem,
quase enrugada
Damião era trabalhador, ou como gostava de pensar
trabalhava a dor,
e sempre fazia deste sentimento,
Seu combustível e seu
diário alimento
A dor transforma, pensava
Estarei aqui para sofrer,
Durante esses dias de sol a pino
Até morrer.
Mas Damião também tinha um sonho.
Desde muito pequeno sonhava em ser urubu.
Ave esbelta essa,
Que nunca era caçada ou
perturbada
Tenho certeza, disse um dia para mim,
Essa ave dorme sossegada.
Além disso, a ave comia
o resto do que todos comiam
Não muito diferente de Damião
Que tinha seis irmãos
E mal lhe sobrava o farelo entre as mãos
Mais um dia começava
Catar papelão, restos, fazer um bico
Aqui e Ali
Na rua das Dores, na rua do Trabalho
Sempre arrumava qualquer compromisso
Por maior que fosse o embargo
Por maior que fosse o seu cansaço
Queria voar e nunca voava
Queria sonhar e nunca sonhava
Ficava ali no chão mesmo,
Admirando de longe
Damião ficava em pé, firme
Talvez fosse pelo café preto
que tomava toda manhã
Ou pela falta de cafuné
que não recebia todas as noites
Até um dia, comum como os outros
Um urubu pousou perto de Damião
E lhe causou um alvoroço
Damião agarrou em seu pé e vôo
E viu de cima belezas imperfeitas
Semelhanças incompletas
Um mundo que lhe era estranho
Viu balões, pessoas enamoradas,
coisas perdidas,
pinturas ilustradas, bolas de gude,
E estradas inacabadas
Ou(Viu) um som suave de piano,
uma gaita distante abafada
E Viu que a vida não era só dor,
mas um dose forte de amor
O amor transforma, me disse agora,
Estamos aqui para coletar
Não só papel e restos,
Mas a beleza que também existe
Lá fora
Damião era sonhador, ou como gostava de pensar
sonhava a dor
E desse dia em diante
Tomou todas as manhãs
Um belo gole
Unguento e Próspero
de ca-(fé)-
Uma fé que ao mesmo tempo é
cambaleante e
estonteante
Uma fé que transforma o trabalhador em
um voador caminhante
De tanto trabalhar,
Damião tinha a cor de terra molhada,
molhada de tanto suor que escorria
pela sua testa franzida,
e apesar de jovem,
quase enrugada
Damião era trabalhador, ou como gostava de pensar
trabalhava a dor,
e sempre fazia deste sentimento,
Seu combustível e seu
diário alimento
A dor transforma, pensava
Estarei aqui para sofrer,
Durante esses dias de sol a pino
Até morrer.
Mas Damião também tinha um sonho.
Desde muito pequeno sonhava em ser urubu.
Ave esbelta essa,
Que nunca era caçada ou
perturbada
Tenho certeza, disse um dia para mim,
Essa ave dorme sossegada.
Além disso, a ave comia
o resto do que todos comiam
Não muito diferente de Damião
Que tinha seis irmãos
E mal lhe sobrava o farelo entre as mãos
Mais um dia começava
Catar papelão, restos, fazer um bico
Aqui e Ali
Na rua das Dores, na rua do Trabalho
Sempre arrumava qualquer compromisso
Por maior que fosse o embargo
Por maior que fosse o seu cansaço
Queria voar e nunca voava
Queria sonhar e nunca sonhava
Ficava ali no chão mesmo,
Admirando de longe
Damião ficava em pé, firme
Talvez fosse pelo café preto
que tomava toda manhã
Ou pela falta de cafuné
que não recebia todas as noites
Até um dia, comum como os outros
Um urubu pousou perto de Damião
E lhe causou um alvoroço
Damião agarrou em seu pé e vôo
E viu de cima belezas imperfeitas
Semelhanças incompletas
Um mundo que lhe era estranho
Viu balões, pessoas enamoradas,
coisas perdidas,
pinturas ilustradas, bolas de gude,
E estradas inacabadas
Ou(Viu) um som suave de piano,
uma gaita distante abafada
E Viu que a vida não era só dor,
mas um dose forte de amor
O amor transforma, me disse agora,
Estamos aqui para coletar
Não só papel e restos,
Mas a beleza que também existe
Lá fora
Damião era sonhador, ou como gostava de pensar
sonhava a dor
E desse dia em diante
Tomou todas as manhãs
Um belo gole
Unguento e Próspero
de ca-(fé)-
Uma fé que ao mesmo tempo é
cambaleante e
estonteante
Uma fé que transforma o trabalhador em
um voador caminhante
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