Prosa e livros: Seu Benê, o livreiro

A feira da Breganha, é agitada e colorida
Tem inúmeros sons
do chorinho na flauta ao violeiro com seu chapeuzinho
Inúmeros cheiros
do caldo de cana ao churrasco no espetinho
Inúmeras gentes
recatadas, falantes, misturadas e cambaleantes

Sempre me enrosco em algo da feira:
Um relicário, uma caixinha de música,
Um vestido bonito, uma estrela cintilante
Um jogo de tabuleiro, uma colher de chá,
Uma rede e até um vinil para decorar

Lá é o lar das coisas perdidas do
rio do Vale do Paraíba

E foi lá que também encontrei
Entre prosas e Livros
Um modesto senhor chamado
Seu Benedito

Seu Benê, como gostava de ser chamado,
tinha um sebo antigo,
ele era: pequeno, gostava de tomar sol,
usava boinas e pescava livros com um anzol.

Certa vez, ouvi um som de gaita
Fui ver onde era
E vi que Seu Benedito soltando a goela

Ele tinha inúmeras gaitas:
pequenas do tamanho do dedinho,
grandes como um avestruz,
ornamentais e até azuis

Fiá, me disse uma vez,
Pega esse livro e lê para sua pequena.
Agradeci sorrindo com uma fala tagarela.

Seu Benedito gostava de criança
Toda vez que uma passava por sua loja
Ele presenteava com um livro ilustrado
escrito no verso
uma dedicatória para Dona Esperança

E o tempo quando estávamos juntos
Passava bem mansinho
Gostava de lhe dar doces caseiros
Para adoçar a sua vida e cultivar sua personalidade leve
Quando penso nele, sempre com carinho,
Penso em alguém que reescreve

Reescreve: a sua vida com seus livros,
a sua música na gaita com seu espírito.

Outro dia, descobri algo incrível
Seu Benê e eu temos uma a-(fé)-to em algo comum e intangível:
Fia, sou muito grato a Pena Branca, me disse.
E eu o abracei,
Também tenho, respondi, ele é meu pai, meu amigo e
sigo sua lei.

Gosto de pensar que sempre poderemos
nos ver quando formos para Aruanda
Seu Benê e eu
Andaremos pelos jardins de lá,
Pescaremos livros
Falaremos sobre as coisas perdidas
E quem sabe, tocaremos gaitas harmônicas
desprendidas

Comentários